segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

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Milito bravamente pela democracia. Não por defender a liberdade - quimera muito pouco convincente -, nem por ver nela um arranjo político justo. Longe de ser alguma dessas coisas a democracia é ao menos muito engraçada e nada me atrai mais que boas risadas...

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

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Escrevo porque lembrei de Maria. Achei ainda em mim um carinho sem precedentes. Em Maria aprendi um amor bobo: que ria à toa, que não exigia nada em troca, que se sabia inocente, mas nem se importava. Aprendi com ela certa paciência com as pessoas e coisas que nos são estranhas, certo carinho com o mundo. Não é que eu veja em Maria um estandarte de perfeição - sei, por exemplo, que ela não é muito boa comunicadora - mas, como disse, passei a ver nisso uma manifestação pura do existirmos. Dizer que lembrei de Maria é dizer que aos poucos me volta aos olhos o ver poesia nas coisas como são. Aos poucos me abandona um peso que nunca quis carregar e mesmo assim ajudei a alimentar. Vejo que deixei de comemorar as manhãs e em troca os dias passaram rápidos e frios. Não é que a vida seja pesada ou leve, é apenas indiferente. Volta, Maria, volta e traz na sua cesta o que perdi de poesia.

Hoje sou eu quem lhe pede, assim, humildemente: venha para mais perto de mim.

domingo, 6 de novembro de 2011

Cataguases

Como diria Ascânio Lopes:

"Em ti se dorme tranquilo sem guardas-noturnos.
Mas com o cri-cri dos grilos,
o ram-ram dos sapos.
O sono é tranquilo como o de uma criança de colo.
Vale a pena viver em ti.
Nem inquetude.
Nem peso inútil de recordações,
mas a confiança que nasce das coisas que não mudam bruscas,
nem ficam eternas."

sábado, 24 de setembro de 2011

Respirar, caminhar, movimentar os membros, dor no estômago, dor de cabeça, sorrir, chorar, enrubescer, segurar, apalpar, sentir o cheiro, amar, odiar, sentir fome, ter orgulho, achar graça, entristecer, arrepender-se, abraçar, beijar, trabalhar, pagar as contas, comprar comida, abrir garrafa de leite, abrir a torneira, trancar a porta, desesperar-se, assistir televisão, pensar, mentira, verdade, mais-valia, alteridade, feio, belo, o inapreensível existir, o medo, a consciência do vazio, a beleza de tudo, o orgulho, a categórica face da

morte.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

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E pensar que por um momento esqueci quão maravilhoso é o existir. Desculpe vida, já passou esse meu acesso de loucura.

sábado, 10 de setembro de 2011

Carta a Brasília

Eu admito que te traí. Quando vi pela janela do avião as suas matas secas e estradas poeirentas quis voltar imediatamente para os braços do mar. Eu não faço o tipo volúvel que larga um amor apenas pela beleza estonteante de outro. Acontece que muitas das coisas que antes me faziam te amar hoje me dão medo e vontade de ir embora. Aqui eu só vejo um monte de obrigações, decepções, uma alegria ou outra, mas é tudo bem mais ou menos. Em compensação acabei de voltar de um sonho e pulsa em mim a visão ainda fresca de uma vida outra. Mas está tudo bem, Brasília. Não serei covarde como em outras vezes: ficarei aqui contigo.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

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A vida é feito passarinho
É como a flor e o espinho:
Tem o cantar e o sofrer

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Recado

Muito bonito você fica aqui na cidade maravilhosa, viu? Gostei do jeito que os cariocas te arrumaram: você parece pronto pra uma eterna festa. E também todo mundo gosta de ti por essas bandas, qualquer coisinha falam de você, mal vem o sol e já correm pro seu abraço. Tem muita alegria por aqui mesmo, é por isso que você faz questão de brilhar tanto. Fico feliz de estar em sua presença, acho que te amo muito.

Você é todo engraçado: parece um monte de rios.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O amor e a liberdade

Digamos que José era um apaixonado. Desde sempre o rapaz foi um amante das coisas todas que porventura existissem. As pedras no chão, o olhar de uma moça, o tilintar das chaves de um senhor na rua: tudo era objeto não só de atenção, mas de um sentimento que o transcendia . A verdade é que muito lhe doía a indiferença tamanha das pessoas com o existir em absoluto. Certa feita, uma senhora que caminhava pela calçada seguiu seu obtuso caminho sem dar a mínima atenção a um caco de vidro que a tudo contemplava escorado na raiz de uma árvore. Foi a gota d'água: José passou a recolher tudo aquilo que antes padecia no esquecimento. Ele guardava pedras pequenas - dessas que se confundem com grãos de areia - e pedras grandes, pneus de carro usados, canetas sem tinta, sorrisos não correspondidos. A tudo isso, reservava um carinho sem precendentes.

Acontece que a cada dia José via menos alegria a sua volta. As coisas que ele tanto amava não demonstravam gratidão, mas desespero: o preocupar-se de José lhes tirava a liberdade. Talvez o que mais quisesse o caco de vidro era ver o tempo passar escorado sob a sombra da árvore. O rapaz não pensou duas vezes e desfez-se de tudo que antes havia aprisionado. Ficou tão leve que virou pássaro e voou: passou a amar o infinito.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Sobre o não ser

Ontem, ao acordar, não me banhei num rio, não fui índio, não fui padeiro, não fui um menino do sinal. No caminho para o trabalho um homem que à minha frente andava entrou na loja à esquerda e não me cumprimentou, não viramos amigos, nem conheci a família dele. Ontem não me casei e não tive o filho mais especial do mundo, nem a mulher mais querida, nem a mais odiada ante a mais odiosa briga. Às vezes me dói lembrar, mas ontem não fui astronauta e me escapou aquela cena do mundo azul no espaço em silêncio...

Acontece que ontem era um dia de ser: e diante de cada segundo que me atirava o tempo tinha certeza de que fui seu


- lembranças -

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Luiz Tatit

Sempre que alguém
Daqui vai embora
Dói bastante
Mas depois melhora
E com o tempo
Vira um sentimento
Que nem sempre aflora
Mas que fica na memória
Depois vira um sofrimento
Que corrói tudo por dentro
Que penetra no organismo
Que devora
Mas depois também melhora

Sempre que alguém
Daqui vai embora
Dói bastante
Mas depois melhora
E com o tempo
Torna-se um tormento
Que castiga, deteriora
Feito ave predatória
Depois vira um instrumento
De martírio duro e lento
Uma queda num abismo
Que apavora
Mas depois também melhora

E vira então
Uma força inexplicável
Que deixa todo mundo
Mais amável
Um pouco é conseqüência
Da saudade
Um pouco é que voltou
A felicidade
Um pouco é que também
Já era hora
Um pouco é pra ninguém
Mais ir embora
Vira uma esperança
Cresce de um jeito
Que a gente até balança
Enfim
Às vezes dói bastante
Mas melhora
Enfim
É só felicidade
Aqui agora
É bom
É bom não falar muito
Que piora

terça-feira, 16 de agosto de 2011

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Desde criança ele a via no céu e sonhava com o dia de abraçá-la nas nuvens. Aos dez anos disse que seria aviador e construiu seu primeiro aeromodelo. Na juventude concentrou-se nas leis da física e buscou construir um objeto que permanecesse eternamente no ar. Teve vários amigos, algumas namoradas, sempre respeitou sua família, mas a verdade é que o mundo é tão interessante à distância quanto é insuportável por dentro. Viver era encantadoramente tedioso e seu desejo era tão somente livrar-se da rotina, experimentar do mundo apenas o que dele era paixão. Deixar-se ficar era um tremendo despropósito.

Anos se passaram e às invenções fracassadas se juntaram as rugas. Certo dia, já com seus duzentos anos, o velho teve um arroubo de maturidade e percebeu que a física pouco importava em questões transcendentes: arrancou as asas de um ornitorrinco mágico e voou ao encontro de seu amor eterno. Um pouco à direita do arco-íris e já bem perto de Deus lá estava ela, aquela que por tantas noites lhe tirara o sono, linda, de um sorriso exuberante: a Liberdade. O velho, com os olhos úmidos, tentou retê-la em seus braços, mas era impossível. A liberdade continuava impassível, absorta em silêncio celeste e qualquer tentativa de tocá-la transpassava seu espectro incandescente.

O velho não se arrependeu nem quis voltar ao seu mundo pequeno, mas pensou que talvez fossem apaixonantes e despropositadas as coisas todas.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Drummond

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala – e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu... Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!

Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

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Meu caro ventilador,

como deve ter ficado claro ao longo de nossos diálogos sucessivos, você não existe. Não fique chateado, vou explicar-me melhor: é claro que você existe, afinal de contas eu o vejo, toco, percebo-te e não desejo discordar de mim mesmo; a questão é que você não tem agência. Não sei como os anglo-saxões suportaram por tanto tempo a ausência dessa ferramenta linguística essencial - a diferença entre ser e estar. O fato é que você 'está': se eu largá-lo no meio da sala é possível que algum desavisado tropece em ti e caia. Apesar disso, você não 'é', ao contrário do que ocorre em filmes da Disney você não fica triste, não sente dor, não se apaixona ou se enraivece.

Você deve estar se perguntando: - se eu não sou, como é possível esta conversa? Isso pode parecer chocante, meu amigo, mas a verdade é que nesse tempo todo você era uma extensão de mim. Nas vezes em que estive a admirar suas qualidades eu apenas me maravilhava com a beleza de estarmos, essa condição a qual compartilhamos todos. Nas vezes outras, aquelas em que brigamos, eu apenas ruminava a solitária angústia de ser. Neste momento você deve estar achando que sou louco, por dialogar com um objeto que só me escuta no momento em que surge como uma extensão de mim mesmo. Caso esse pensamento lhe ocorra, eu devo ter sido ligeiramente prolixo.

De início, já lhe advirto que a loucura inexiste e que é uma extrema arrogância de sua parte pensar o contrário. Em segundo lugar, se eu estiver certo, sua existência é tudo que me resta além de mim. Este meu pensamento não está completamente acabado, mas ser é uma experiência solitária e viciante. Os monges budistas buscam o desapego: livrar-se de emoções, de quereres, de sonhos. Acho que na verdade eles buscam o máximo de aproveitamento do estar, querem aproximar-se cada vez mais de você, meu querido ventilador. Não me diga que estou a fazer filosofia barata: estas são apenas reflexões egocêntricas entre mim e você, que é uma projeção de mim.

Sim, sim...eu também gostaria de um abraço. Acontece que meu abraço não lhe serviria, afinal de contas, você não sente nada e o seu carinho também me seria inútil pelo mesmo motivo. Eu queria muito deixar de ser só: queria que esse abraço virasse linguagem...

quinta-feira, 30 de junho de 2011

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Ah, Brasília...

Tanto me pistas, que começo a carrear

sábado, 11 de junho de 2011

A meu amigo João

As certezas não cabem neste mundo, pois o transitarmos no ser depende basicamente de fé. A crença de que amanhã o sol nascerá de novo, de que a moeda cairá no chão se eu jogá-la.

Acontece que há vinte anos nascia um alguém. E as coisas - idiotas que são - seguiram em sua tacanha indiferença a tudo. O sol não fez questão de brilhar mais, os carros não pararam, os postes de luz iluminaram a noite da mesma forma de sempre. Mas para o nascente indivíduo o mundo era uma grande novidade e tudo era singelamente profundo.

Foi de forma displicente que o tempo uniu a mim e à criança que em vinte anos idos chorava na maca de um hospital. Erámos grande novidade um ao outro e a novidade é intrinsecamente incerta. Algumas delas acabam se mostrando um evento pontual e podem nunca mais ocorrer, outras podem se repetir indefinidamente até conquistarem a fé e virarem certezas.

E seguiu a vida, esta dança de imprevistos. Eu, moeda que sou, várias vezes caí ao chão, por esta crença a que chamamos gravidade. Eis que tão certo quanto cair era ver João me levantar. Na primeira vez foi uma grande novidade, mas se repetiu, repetiu, repetiu e virou certeza. Pode ser, meu amigo, que o monte Everest - para citar um exemplo pequeno - não dê a mínima para sua existência. Peço logo que perdoe a ignorância desse monte de pedras: tenho mais fé em sua grandeza que na dele.

domingo, 5 de junho de 2011

O ventilador

Eu rompi relações com o ventilador. Mesmo quando desligado, o infeliz é de uma frieza paralizante. Não há muito o que explicar, não há um dizer que soe poético. A tudo que dói, ou a tudo que a alegria preenche, o desgraçado abençoa com ventos de indiferença. Filho da puta. Ser é muito mais complexo do que girar hélices ou acumular poeira e ignorar é um bom modo de seguir em frente, não de transformar. Eletrodoméstico patético...pense nas coisas que te disse.

(este texto não gosta do ventilador)

A revista

Eu queria simplesmente que você fosse eu e entendesse a plenitude do que é virar as páginas daquela revista. A cada foto, a cada linha, a materialização do que é sentir-se em paz por estar de alguma forma no outro. Sou péssimo em manifestar sutilezas. A sensação de não ter dito a você o quanto o seu existir me encanta dói e a dor se mistura com os medos e conflitos que sufocam o grito do querer bem. Àqueles que ignoram a arte da leveza, só resta o dizer panfletário. Em matéria de poesia ainda tenho muito a aprender com a revista...

domingo, 8 de maio de 2011

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A liberdade inexiste, haverá sempre a prisão do querer.

domingo, 1 de maio de 2011

Tarde de domingo

Era uma tarde de domingo e o céu sorria um azul inconsequente. O menino, abrigado pela sombra da casa, via as plantas fora da janela arderem numa alegria verde. Viu um passarinho preto nadar no infinito azul e quis ser mergulhador do ar. De tanto querer borbulhante dentro do meninozinho seus pés descolaram-se do chão e passaram a flutuar em direção ao céu. As coisas na terra que antes pareciam tão grandes tornavam-se pequeninas até sumirem: foram tomando seu tamanho real.

Era uma tarde de céu azul quando o menino domingou no inconsequente.

domingo, 24 de abril de 2011

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A pele e a pedra

sábado, 16 de abril de 2011

As categorias

Era uma vez um menino da cidade que via no sabiá marca de passarinho. Pensava também que eram os pelos, penas e cores dos bichos todos rótulos como os de um supermercado. O menino era muito empenhado em analogias, achava que árvore era prédio e lagoa o vaso sanitário dos animais. Cavalo era motocicleta, elefante era ônibus e asfalto era grama.

Certo dia o rapazinho se viu empenhado numa vizinha linda dos olhos verdes. Achou que não havia modo de expressar a plenitude do existir da moça. Travou-se uma guerra, ali no interior dele, com o precisar de palavras. Ele quis que as coisas não fossem comparadas nem apreendidas em língua: o menino queria a pureza do ser-apenas. Não havia uma idéia de pássaro que abarcasse muitos seres distintos, nem um joão-de-barro era igual ao outro. O menino pensava tudo com profunda simplicidade, apenas sentia nitidamente o existir das coisas concretas e abstratas, que por estarem em infinitude passaram a inexistir.

A vizinha entendeu nunca: havia nem essa história.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Guimarães Rosa

"Tem horas em que, de repente, o mundo vira pequenininho, mas noutro de-repente ele já torna a ser demais de grande, outra vez. A gente deve de esperar o terceiro pensamento."

sábado, 9 de abril de 2011

A Paz

Nós
Tranquilamente sentados ante o mais ardente terremoto,
O mais deserto dos desertos, o mais distante horizonte
Nós
Brincando na praça entre a miséria, a fome, o pranto,
O mais escuro calabouço, a mais infame entre as mentiras
Nós
Sorrindo em falso na boate, surdos ao grito do remorso,
cegos na luz da hipocrisia, mudos pra voz do que é desprezo

Nós
E a complexidade da paz

8 de Abril

Ontem foi aniversário desse blog. Eu tinha planejado uma festa daquelas em que se convida todo o mundo, amigos distantes e os amigos dos amigos deles. Mas como ontem nem foi pra mim um dia de tantas comemorações, adiei para hoje minhas agradecidas palavras. Esse site modesto, diria mesmo simplório, hoje tem uma média de 30 visitantes por dia. A vocês, obrigado.

Já recebi aqui visitas de Moscou, Paris, e algumas cidades brasileiras nas quais não conheço ninguém. A esses visitantes que não participam do meu círculo direto de amizades - mas com os quais acabo por compartilhar coisas - mando um abraço transcendente, posto que virtual. Aos meus amigos de sempre - ah, vocês - obrigado pelas palavras esporádicas de apoio que mantêm acesa essa brincadeira, que de alguma forma me faz bem.

Enfim, para simbolizar o dia de ontem, deixarei aqui os links de alguns posts mais acessados ou comentados por amigos. Talvez este seja o primeiro ano de muitos, talvez não...de qualquer forma, obrigado mais uma vez.

Abril de 2010
Poema II, Poema IV, Manhã

Maio de 2010
..., O Abraço, O amor e as retas

Junho de 2010
Quando há luz, Patrocínio do Muriaé

Julho de 2010
A uma conversa na beira do cais, Olhar, Eu, você, nós, Namoro

Agosto de 2010
Contra o unitarismo do ser, Pai, Ser concreto

Setembro de 2010
Sobre o que nos escapa, A uma amiga

Outubro de 2010
(Re)começo, A cientista, Eleições

Novembro de 2010
Caso, José, ...

Dezembro de 2010
Amantes, Seu presente, Sobre o que nos une

Janeiro de 2011
O Adeus, Sobre sereias, O Escritório

Fevereiro de 2011
Sobre o não ser, A viagem

Março de 2011
Impressões, O vazio

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Sobre o inteligível

Era fim de tarde quando alguns anjos vieram me buscar. Disseram, com seus sorrisos cativantes, que eu havia sido escolhido para habitar o reino dos céus, como acontece com tantos seres mortais. Eu achei muita graça e já fui avisando que gostava muito daqui e não acreditava em deus. Eles disseram que o tal criador nunca ligou pra essas coisas de fé e que o pós vida tinha tudo de bom do mundo que a gente conhece, excluindo, é claro, os defeitos.

E o céu era realmente um lugar muito agradável, com gente feliz por todos os lados. Os anjos já me levaram a um bar muito tradicional por lá - datado, dizem, em mais de dois mil anos. O lugar era decorado por uma única mesa bem grande que,, apertando bem, acomodava um pouco mais de 12 pessoas. Respeitando o milenar costume, só serviam pão e vinho aos clientes, se é que estes podem ser assim chamados, uma vez que não há dinheiro nem aquela discussão pra ver quem paga a conta. Os anjos eram muito engraçados e contavam várias piadas com o capeta "vai essa agora: por que o diabo atravessou a rua?", tão divertidas que até agora me arrependo de não tê-las retido na memória. Mas achei essa história de piada com o pobre do Lucifer um baita rancor por ele não dar mais as caras la no céu.

Não foi preciso muito tempo para que eu enjoasse daquele lugar e menos ainda para comunicar isso aos anjos. Eles se fizeram de desentendidos afirmando que não havia mais volta, que deus ia ficar chateado e toda uma conversaiada boba pra dizer no final que o céu era um lugar perfeito e não havia sentido em voltar. Eu confesso que me exaltei um pouco quando disse que sempre preferi cerveja, nunca gostei das coisas limpinhas o tempo todo, nem daquela fala mansa deles e que o perfeito, pra resumir, era no fundo uma  merda. Falei também que minhas amizades aqui na Terra já datavam de dez anos, que isso em tempo de gente é coisa pra caramba e que eu sentia saudade até dos defeitos deles.

Eu gosto muito de anjo, mas gosto muito de gente também. É bom estar de volta.

domingo, 3 de abril de 2011

O ventilador

Poucas coisas são tão capazes de salvar uma vida quanto um ventilador. Nada contra os secadores de cabelo, gavetas de armários ou outros objetos também merecedores de prestígio; simplesmente é nele que penso enquanto escrevo estas linhas. Quando ligado aos misteriosos buracos da tomada, o referido objeto é assolado por energias transcendentes e inicia um movimento de hélices que cortam o ar e geram vento. Inclusive é daí que vem o seu nome: ven-ti-la-dor. A própria palavra é um exemplo de objetividade.

O ventilador não cogita a possibilidade de que eu, em um arroubo de irresponsabilidade, deixe de pagar a conta de luz, causando a sua morte e a de outros eletrodomésticos. Será que a falta de energia significa mesmo sua morte? Pois é, ele não se pergunta isso também. Ele não acha que o vento carrega a dureza do olhar intraduzível, a vontade de você por perto. É preciso, desesperadamente, entender o ventilador...

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Não é preciso mais que uma linha para dizer adeus...

quarta-feira, 30 de março de 2011

Desfazer

Se não me engano era mês de agosto quando resolvi me desfazer de tudo aquilo que não tivesse um bom motivo para ali estar. Se algo, por mínimo que fosse, me parecesse sobressalente no sistema do existir tinha como destino certo a amplitude do esquecimento. Comecei - diria que obviamente - por atirar às traças os livros, depois computador, escrivaninha, relógio. Percebi que não precisava de roupas para seguir no passar da vida. Eu não precisava de música, ou de qualquer outra forma de arte, linguagem, nada que surgisse da interação entre pessoas: eu não queria a inutilidade das gentes. Os alvos primeiros foram aqueles conhecidos distantes que nos distribuem tontos sorrisos esporádicos. Gradativamente fui chegando aos amigos mais próximos e à família, seres que simplesmente distribuem tontos sorrisos e enfadantes rancores cotidianamente. O desfazer me proporcionava um prazer enorme, eu tinha certeza de estar caminhando rumo ao encontro de minha essência.

Depois de tanto trabalho, quando livrei-me daquela insignificante tampa mordida de caneta escondida debaixo da cama já inexistente, entendi: desnecessário era eu.

sábado, 26 de março de 2011

O vazio

Aconteceu há uns dias: eu andava tranquilamente, ali pelas quadras do Plano, quando um vazio começou a me acompanhar. Eu entrava numa loja ele vinha junto, ia comigo ao cinema, ao parque, lia comigo o jornal. O vazio é uma dessas figuras carentes que quando agarram o sujeito não o largam em momento algum. De início me incomodava essa relação sufocante, mas com o tempo passei a ser indiferente, consequência óbvia para quem vive acompanhado deste tipo de coisa. Digo coisa porque não sei exatamente como chamá-lo, não é bem um sentimento, antes seria o não-sentimento, ou a não-companhia, enfim, o não-ser.

Desde o momento em que o infeliz acaso me revelou o encontro com o vazio, só sei falar dele. Quando deu-se tal infortúnio? Não sei ao certo; imagino que ele me apareceu justamente quando perdi um amor. Pode ser isso...acho que vou chamar esse vazio de saudade.

domingo, 20 de março de 2011

Quintana

Eu agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?

Gil

"A paz invadiu o meu coração
De repente, me encheu de paz
Como se o vento de um tufão
Arrancasse meus pés do chão
Onde eu já não me enterro mais

A paz fez um mar da revolução
Invadir meu destino; A paz
Como aquela grande explosão
Uma bomba sobre o Japão
Fez nascer o Japão da paz
(...)
Eu vim
Vim parar na beira do cais
Onde a estrada chegou ao fim
Onde o fim da tarde é lilás
Onde o mar arrebenta em mim
O lamento de tantos ais"

quinta-feira, 17 de março de 2011

Nesta tarde

A voz de Chico César ecoa frágil pelo quarto, "e aí você surgiu na minha frente". Eu, olhando os livros na estante percebo, ou decido, que mais um alguém terminou em mim. Pego o violão na parede e sorrio: restará sempre nós dois.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Impressões

Engraçado, há alguns minutos você saía de casa enquanto fazia recomendações envolvendo ligações e documentos importantes e à medida em que fechava a porta dizia "eu te amo". Na Líbia, opositores ao governo disparam tiros de canhão, lutando pela democracia. Você fechando a porta, revoltosos na Líbia, a televisão de LCD reproduzindo o jornal e um homem - um saco de batatas nas costas, as mãos rachadas pelo esforço, pele negra e barba branca - revirando o lixo do bloco onde moramos.

Entro no carro e dou partida. Ele se move, o que deveria ser algo mais impressionante do que parece à primeira vista. Vejo no tapete do carro um grampo de cabelo que você deixou na noite passada e penso que o amor inteiro é esse grampo. Penso que sou esse amor que transcende o eu e se encontra ali, no tapete do carro, mas não uso exatamente essas palavras na minha reflexão. Uma moça atravessa a faixa de pedestres e eu paro. Um pardal voa de uma árvore a um poste. Eu não costumo voar. A moça chega ao outro lado, volto a andar,125 pessoas entram em um avião e embarcam para Belém. Segunda-feira, um restaurante no centro e ele pede a mão dela em casamento: ela esta grávida e será uma menina, embora ambos não saibam.

O grampo desliza no tapete do carro. Eu, na condição de grampo que transcende o amar, dirijo o carro à procura de ser. Não há o que criar, viver sufoca.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Brasília

Caminho no deserto da noite entre as quadras vazias. O silêncio arde, brinco de ouvir meus passos ecoando nas janelas dos prédios. Bato o pé mais forte, depois estalo os dedos, o eco de mim nas janelas. Eu sou o caminhar deserto pelo silêncio em rua. Como um verme nas veias do organismo concreto. Um pouco solidão, talvez eu seja um pouco saudade...talvez. É madrugada e a lua cheia está encoberta por nuvens: ingrata. Dediquei-te horas tantas de contemplação para no momento exato do esvair-me no escuro só restar abandono. A rontina me torna quase imóvel. À excessão de minhas operações metabólicas sou exatamente o mesmo que fui ontem, ou bem perto disso. Pouco tenho a acrescentar.

Agora eu sou uma música cantarolada bem baixo pra não acordar a cidade - a mesma música de ontem. As janelas agora ecoam minha voz, sou janela, um eco do mesmo não-ser de ontem. É chato isso de estar. Um homem passa com as mãos no bolso - tenho medo dele. Ele tem medo de mim também. Um momento de estardalhaço, as janelas confundem-se quanto aos passos de quem devem ecoar. Pegamos caminhos diversos eu e o homem: dois vermes no organismo concreto.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

A Viagem

Qualquer dia pegaremos um trem e rumaremos - malas prontas ou não - ao infinito desse mundo. Eu e você, como manda a estrada. Será uma viagem permeada de conflitos: atravessando de ônibus o Panamá ouvirei de ti, diversas vezes talvez, que embarcar acompanhado por caminhos tortos ameniza o grito seco da vida e que esta precisa ser encarada de frente. Nessas horas, derrotado, deixarei que você sente ao lado da janela. Talvez veja que não se esconde nas coisas a urgência e que a vida não gosta de gritos secos, mas de murmurios indecifráveis.

Nos amaremos em uma praia de Cuba, enquanto as ondas do mar sussurram o segredo da eternidade. Em nós, o grito sufocado da infinitude, a vontade do outro que transcende a limitada condição humana; na praia, o silêncio de quem sabe tudo. É em silêncio que comeremos tacos pelas ruas do México. E terão gosto de paz...

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

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O amor é, por definição, conservador: quer estender no sempre a novidade que foi o outro.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A bolinha de papel

Pairava ela sobre o concreto, retorcida em sua tão maleável condição. Nunca disse nada a fim de não magoá-la - lhe agradava criar misticismos quanto à origem de nosso amor -, mas foi o puro acaso quem transformou em evento o encontro entre a superfície de meu sapato e a branca face de seu ser redondo. Foi um belo relacionamento esse entre nós dois. Me agradava contemplar por vários segundos a beleza de seu transarbóreo ser. Nosso amor foi permeado por acontecimentos marcantes: certa vez, ao empurrá-la com a ponta de meu pé, ela foi arrastada pelo vento em direção a uma poça d'água, salva apenas por uma contigente pedra que descansava no caminho.

Penso que talvez tenha sido o tempo responsável principal pelo desgaste de nosso arrebatador deslumbre. O fato é que passei a encará-la como um simples pedaço amassado de papel saudoso pela idéia de ter sido um dia árvore. Patética era sua existência: seguir em frente pelos chutes que eu lhe dava. Foi então que resolvi separar-me

"Adeus querida, ainda temos muito o que aprender nesta vida..."

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Sobre o não ser

Ontem, ao acordar, não me banhei num rio, não fui índio, não fui padeiro, não fui um menino do sinal. No caminho para o trabalho um homem que à minha frente andava entrou na loja à esquerda e não me cumprimentou, não viramos amigos, nem conheci a família dele. Ontem não me casei e não tive o filho mais especial do mundo, nem a mulher mais querida, nem a mais odiada ante a mais odiosa briga. Às vezes me dói lembrar, mas ontem não fui astronauta e me escapou aquela cena do mundo azul no espaço em silêncio...

Acontece que ontem era um dia de ser: e diante de cada segundo que me atirava o tempo tinha certeza de que fui seu.

sábado, 29 de janeiro de 2011

O Escritório

Ao primeiro beijo coube ocorrer numa terça-feira, dentro do elevador do Ministério. Era um dia quente sob os ternos e, em meio a colegas que carregavam maletas e pilhas de documentos, promoveram um encontro bonito entre os lábios secos. Foi um mandato inteiro de carinhos constantes: ele escrevia recados apaixonados nas guias de tramitação de processo enquanto ela enviava poesias pelo sistema de comunicação interno. O calendário do escritório anunciava a quinta-feira no dia em que ela, no intervalo para o cafezinho, comunicou-o que por nove meses teriam um novo colega de trabalho. Naquele mesmo dia ele foi chamado aos berros à sala do chefe: "Excelentíssimo senhor Ministro, de acordo com o parecer da equipe técnica, atestou-se que os múnicípios localizados na região sudoeste da Bahia encontram-se irremediavelmente grávidos".

No casamento compareceram quase todos os colegas, menos os do departamento de pessoal.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Sobre sereias

Aconteceu um dia desses: na beira do lago, o céu tingiu de rosa o firmamento. Foi um espetáculo rotineiro, como são rotineiros os acontecimentos mais relevantes. Achei que o mundo passava pra mim uma alegria que era meio laranja e tinha cheiro de lago, ou cheiro de vida não sei. A certeza que em mim habitava era a de sentir amor, que é o mesmo de sentir vida, mas em termos valorativos.

Carinhosamente o céu foi me lembrando que não, o que havia de fato era o reverso do haver antes pensado. Era eu quem jogava no mundo um cheiro de lago - ou de amor, ou de vida - que uma moça verdemente plantou em mim. E aí passei a acreditar em sereias...

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Conversa

- Olha que coisa bonita; tem uma formiga na mesa...
- Pois é, já que você tocou no assunto eu acho esse negócio de taxonomia das formigas uma coisa horrível. O afã semiótico da sociedade moderna que busca decompor e classificar o mundo em partes insignificantes a procura do que chamam conhecimento me dá nojo. Temos que encontrar no mundo sistema a compreensão de sua plenitude.
- Agora ela pegou uma folhinha que tava perto do seu copo. Aposto que leva pro formigueiro.
- É isso! No fim das contas estamos condicionados a viver como formigas, percebe? Repetindo o mesmo trabalho alienante que alimenta o formigueiro em detrimento de nosso auto-conhecimento como seres pensantes providos dessa graça que é a vida.
- Engraçado, a folha é grande demais e ela tá tropeçando.
- Eu preciso pensar nessas coisas tantas, muito obrigado pela conversa. A gente se encontra por aí.

...

- Isso formiguinha, vai embora: gente é um bicho muito chato mesmo.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

...

(Escrito em 29 de Dezembro)

Diga à Maria que se aproxima o ano novo. Nunca fui de me ater a datas comemorativas, mas se ela pedisse eu bem que saía de branco e cantando, pra estourar champagne e pular sete ondas. Mas isso não diga a ela, fica só entre nós. É sempre a saudade, essa saudade que toma o meu café, se esconde no meu travesseiro, adentra as páginas de meus livros. Avise que eu enjoei dessa história de saudade e que a partir do ano novo - pra dar esse clima de mudança - eu quero brincar de presença. Eita que eu to vendo a gente enjoando um do outro, viu? Enjoando de rir dessa vida toda, que é engraçada por demais. Diga isso a ela também: que se for o caso de não haver vontade, não precisa vir me ver, só lembre sempre de rir. Aquele riso que o calor de Maria marcou em brasa no meu coração. Vá de uma vez e diga simplesmente que eu quero ela aqui agora. E fala firme pra ela não pensar duas vezes. Que deixemos pra trás um ano inteiro de distância. Ao menos de ti espero notícias e vá com cuidado, Esperança.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

11 de Janeiro: o adeus.

Acho que somente enquanto via o derramar-se sem fim das ondas na praia de Montevideo entendi com clareza a relatividade do adeus. Estivemos num sem numero de lugares a conhecer tantas pessoas e só agora sinto a dor de despedir-me de algo que nao tem forma, nacionalidade, mas que nesse momento se materializa em mim. Um eu que deseja estar no sempre, estendido na infinitude do mundo. Amar é isso: sentir bater forte o coraçao ao lembrar dos amigos em Brasília, Cuzco, Puno, La Paz, Buenos Aires. Sinto o canto das ruas, do barco, dos carros, pessoas, do vento, das montanhas. Humanamente querer abraçar o mundo mas ter sempre as maos atadas pela camisa de força do tempo...

Dentro em breve, voltamos.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

4 de Janeiro: Enfim, Buenos Aires.

Enfim, Buenos Aires. Foram 48 horas de viagem de Sucre até aqui, sem pausa para descanso. Ônibus apertados e sem circulação de ar trouxeram eu, Thiago e alguns vários bolivianos a terras argentinas. Uma ameaça de greve dos transportes na Bolívia e a doença que acometeu um de nossos amigos fizeram com que nos separássemos por alguns dias.Tudo está melhor agora: no caminho para estabilizar-se. As poucas horas que já passamos em Buenos Aires iluminaram a brutal diferença entre esta parte da viagem e tudo que vimos até agora: nada - ou muito pouco - de traços indígenas na população, nada de pequenos prédios, nada de roupas típicas. Até as ruas tem traços europeus.

No bar do albergue uma música tímida embalava alguns poucos estranjeiros que apreciavam uma cerveja. Observando que a conexão do som nos permitia, liguei meu computador e começamos timidamente com um Martinho da Vila, depois forró, frevo etc. Em alguns minutos o bar estava lotado com todos nos fazendo sinais de aprovação e, após algumas cervejas, os visitantes resolveram vir até o computador e colocar na internet alguma música brasileira que conheciam: enfim, chegamos. Aqui, o relógio marca 1:30 da manhã e não descansamos da viagem.
Uma boa noite a todos.

sábado, 1 de janeiro de 2011

1 de Janeiro: Feliz Año Nuevo

Ontem li um artigo do Mario Vargas Llosa sobre o "Cem anos de Solidão" do García Marquez. Dizia que o livro questionava a literatura ocidental marcada pela separação entre tempo e espaço. Marquez reuniria essas duas dimensões do existir. Fiquei um tempo refletindo e procurando esses elementos no que tinha de memória da obra, até desistir.

Ainda ontem liguei para minha família a desejar um feliz ano novo e ouvi suas vozes metálicas transmitidas pelo skype. Eu em Sucre, eles em Brasíllia. Lá, já quase haviam transposto o limite ritualístico da meia-noite, aqui a cidade ainda fervilhava nos preparativos pra festa. Pensei em todos que estão distantes, na saudade, no amor. Ri-me de estarmos tão distantes, vivendo momentos tão diferentes, mas estarmos ao mesmo tempo tão ligados: ligados na idéia de um nós que transcende tempo, espaço e se transforma num querer bem.

Que o próximo ano seja de querermo-nos, amigos. Um feliz ano novo ou, com tanto repetimos aqui, Feliz Año Nuevo.