domingo, 12 de setembro de 2010

Sobre o que nos escapa

Certa vez, visitei Itaoca - uma cidade litorânea habitada quase exclusivamente por pescadores. Em um dos dias que lá passei, resolvi assistir ao nascer do Sol. Que coisa boa é poder vê-lo surgir do fundo do mar tingindo de rosa o firmamento. Para tal empreitada, arrastei minha irmã. Quando começou o espetáculo, algo que não esperávamos ocorreu: milhares de siris voltavam do mar para abrigar-se em seus buracos na areia. Aos olhos de minha irmã, assustada com os pequeninos seres, aquilo acabou com sua contemplação da aurora. Ela mal tinha coragem de pisar na areia, mas um sentimento diferente imprimiu suas marcas em mim.

Imagino que em cada uma das manhãs que experimentei ao longo da minha vida, não importa o que eu fizesse, sentisse, ansiasse, temesse: os siris sempre voltavam à areia. E quantas foram essas auroras, quantas ainda deverão vir. Assim como serão infindos meus anseios, medos, contingências...

Pode ser que me perguntem "E daí? O que nos diz essa história?". Pois é, também não sei: quem dera caber em mim tamanha compreensão do estarmos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário