segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

27 de Dezembro: impressões de La Paz

Nosso hotel fica em frente a uma Igreja. Hoje, aproximandamente às dez da manhã, vi ocuparem suas escadas algumas dezenas de pessoas sob densos trajes pretos, alguém fugiu do sistema. A cidade continua a pulsar freneticamente: uma garota anda de patins, muitas pessoas correm de um lado para o outro, uma velha a pedir esmolas. Ao lado da Igreja um imenso outdoor com uma mulher loira segurando um shampoo. Engraçado isso, aqui em La Paz quando se encontra alguém com traços arianos já se sabe logo que é turista. Os pobres aqui tem feições indíginas e trajes típicos: párias que a cidade busca varrer para o tapete, ignora, desvia, afoga no concreto. Lembrei que no Brasil nossos pobres também tem feições típicas: negras, com a diferença de que andam de bermuda e descalços, não sob os pesados mantos coloridos que amenizam o frio boliviano.

Não há lixo no chão do centro da cidade, os prédios são altos e bonitos como numa máscara. Do alto de nosso apartamento é possível ver  o El Alto, a parte da cidade que acomete os morros num rompante de casas somente no tijolo erguidas desenfradamente umas acima das outras. Hoje saí na minha caça por livros e descobri que é bem difícil encontrar as livrarias abertas aqui, os estabelecimentos abrem e fecham na hora em que bem entendem, mas, nos poucos onde entrei, pude perceber a predominância larga de livros socialistas. Hoje a tarde meus companheiros de viajem pararam para descansar nesse hotel tão confortável, foi um dia de contemplações.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Sobre o que nos une

Há algo que liga a todos nós. Une os mineiros do El Alto boliviano aos engenheiros holandeses. Essa coisa atravessa os predios de São Paulo, as plantações em solo chinês, o batuque de uma tribo no Xingu, o terreiro de candomblé. A plenitude sufoca qualquer grito, valoriza a pequenez de uma formiga, nos despedaça em fragmentos de tudo aquilo que nos escapa, sinto-a presente na minha água, no manto do velho a pedir esmolas, nos olhos que leêm cansados estas letras. Esse vazio - pois é vazio o que é tudo -  está nas letras: está na falta delas.

Corram todos para suas casas, suas ocas, cavernas, se escondam no suor da chuva: só a morte nos impede de estarmos.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Seu presente um pouco atrasado

Quando minha mae me engendrou já vi logo que era o amor quem regia o mundo. O respirar dela era em si algo que me agradava. Mamae brigava quando eu vinha com o pé sujo da rua e eu achava graca de nao poder tira-lo para entrar em casa. Hoje sujo os pés pelo mundo só pra ver ela zangada me querendo limpo e em casa. Podem tentar Mandelas ou Dalai Lamas: so mamae sabe ser paz. Uma paz que enfrenta erguida o mundo, seus tapas e miudezas. Ah mulher, nada sabem os fisicos ou astronomos: é voce quem sustenta o existir. Daqui onde estou ainda te sinto respirar...

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

24 de Dezembro: Feliz Natal

A cada dia histórias completamente diferentes. Hoje, ainda de manha, estávamos a ver o azul marcante do Titicaca e o desenho que o barco deixava na superfície lisa da água. Apesar do sol, o frio nos abrigava sob os casacos. Havíamos dormido na casa de uma família em uma ilha deste que é o mais alto lago navegável do mundo. Tudo aqui é muito diferente. Diferente do que fizemos no Brasil, o povo é predominantemente - para nao dizer completamente - indígena. A terra é dividida por todos e nos únicos lugares que passamos e percebíamos grandes extensoes cultivadas a organizacao se dava por cooperativas. Há uma recompensa: nao tivemos imprevistos com ladroes e, na ilha que dormimos, nao havia policiais nem prefeitos - a comunidade se reúne todos os domingos para discutir as tarefas. Machu Picchu é algo inacreditável de modo que nem me atreverei a descrever a milésima parte de tudo aquilo, tentarei expressar pelas imagens que postarei depois

Quanto ao lado turista, somos a grande festa. Todos adoram os brasileiros e confesso que damos bastantes motivos para reforcar os esteriótipos. Cantamos, conversamos com todos e rimos a todo tempo: excecao até entre os próprios peruanos, um pouco mais fechados que nós aí da terrinha. Hoje mesmo todos bateram palmas e cantaram enquanto eu tocava gaita no barco que nos trazia de volta a Puno - a cidade peruana na beira do Titicaca, onde passaremos o natal. Afinal o natal! Enquanto atravessávamos o lago e eu via a beleza imensurável da paisagem, lembrei de todos que estao aí do outro lado do imenso lago de terra que nos separa. Amamos voces, e sim, há saudade. Feliz natal a todos e um abraco imenso.

PS: O teclado espanhol nos impoe limitacoes na acentuacao e grafia. aheuaheauhueau, todos estamos muito bem e contentes.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

19 de Dezembro: aproveitando as 24 horas.

Pegamos nosso primeiro avião aproximadamente à meia noite do dia 19. Passamos o dia inteiro em conexões sem fim de modo que pouco ou quase nada foi possível dormir nos duros bancos dos aeroportos ou nas apertadas poltronas dos aviões. Chegamos enfim a Cuzco, almoçamos e fomos ao albergue. A cidade é bastante pequena e habitada por um povo humilde que vive praticamente às custas do intenso turismo da região. A cidade, à parte o centro, é marcada pela cor cinza de prédios ainda no reboco, encontram-se casas cuja a simplicidade nos faz duvidar de haver ali habitantes.

O Albergue é uma realidade completamente diferente da vivida pela cidade: seus hóspedes são australianos, americanos, ingleses...Em duas horas que passamos aqui, eu e Thiago estávamos a tocar violão e cantar com dois ingleses, e uma colombiana. No jantar conhecemos os brasileiros: figuras absolutamente maravilhosas. Mineiro, carioca, dois paraibanos e um amazonense. Juntos à colombiana que virou nossa grande amiga passamos a noite inteira nos pubs de Cuzco cantando todos os sambas e onde íamos juntávamos muitas pessoas a dançar e contar histórias. Voltamos à 1 hora da manhã em horário local, que é três horas atrasado em relação ao de Brasília. Agora são quase oito da manhã aqui e já estou de pé, esperando meu café da manhã e pensando num presente pro Ivens, que faz aniversário hoje.

sábado, 18 de dezembro de 2010

18 de Dezembro: Malas Prontas.

Olhando do mapa o roteiro é simples: Peru, Bolívia, Argentina, Uruguai. Dias, teremos 23. A verdade é que a pequenez do mundo mapa nenhum consegue captar. A irrelevância de uma esquina deserta nas ruas de Cuzco, a infimidade de um barco flutuando sobre o Titicaca: enfim, a estreiteza de sermos.

Nos aguarde mundo, você que nos olha de todos os lados: em 6 bilhões de faces distintias, em infinitos detalhes, no tudo que de tão pequeno esconde o segredo de estarmos. Quero abraçar um pedacinho maior de ti...

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Para a vida

Esquecendo um pouco a tendenciosidade da matéria, histórias lindas que valem à pena serem registradas:
quinze minutos necessários e, se possível, vejam este vídeo até o fim.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Amantes

Imensurável mundo
A sufocar sonhos sementes
Apaixonada vida
A transmutar-te ser presente
Desesperado medo
Do que em mim se faz distante
Inevitáveis nós:
A contemplarmo-nos amantes