sábado, 16 de abril de 2011

As categorias

Era uma vez um menino da cidade que via no sabiá marca de passarinho. Pensava também que eram os pelos, penas e cores dos bichos todos rótulos como os de um supermercado. O menino era muito empenhado em analogias, achava que árvore era prédio e lagoa o vaso sanitário dos animais. Cavalo era motocicleta, elefante era ônibus e asfalto era grama.

Certo dia o rapazinho se viu empenhado numa vizinha linda dos olhos verdes. Achou que não havia modo de expressar a plenitude do existir da moça. Travou-se uma guerra, ali no interior dele, com o precisar de palavras. Ele quis que as coisas não fossem comparadas nem apreendidas em língua: o menino queria a pureza do ser-apenas. Não havia uma idéia de pássaro que abarcasse muitos seres distintos, nem um joão-de-barro era igual ao outro. O menino pensava tudo com profunda simplicidade, apenas sentia nitidamente o existir das coisas concretas e abstratas, que por estarem em infinitude passaram a inexistir.

A vizinha entendeu nunca: havia nem essa história.

Um comentário:

  1. Adorei! Suas palavras transmitem uma energia muito boa... parabéns pelo blog!
    beijos,
    camilinha

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