quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O amor e a liberdade

Digamos que José era um apaixonado. Desde sempre o rapaz foi um amante das coisas todas que porventura existissem. As pedras no chão, o olhar de uma moça, o tilintar das chaves de um senhor na rua: tudo era objeto não só de atenção, mas de um sentimento que o transcendia . A verdade é que muito lhe doía a indiferença tamanha das pessoas com o existir em absoluto. Certa feita, uma senhora que caminhava pela calçada seguiu seu obtuso caminho sem dar a mínima atenção a um caco de vidro que a tudo contemplava escorado na raiz de uma árvore. Foi a gota d'água: José passou a recolher tudo aquilo que antes padecia no esquecimento. Ele guardava pedras pequenas - dessas que se confundem com grãos de areia - e pedras grandes, pneus de carro usados, canetas sem tinta, sorrisos não correspondidos. A tudo isso, reservava um carinho sem precendentes.

Acontece que a cada dia José via menos alegria a sua volta. As coisas que ele tanto amava não demonstravam gratidão, mas desespero: o preocupar-se de José lhes tirava a liberdade. Talvez o que mais quisesse o caco de vidro era ver o tempo passar escorado sob a sombra da árvore. O rapaz não pensou duas vezes e desfez-se de tudo que antes havia aprisionado. Ficou tão leve que virou pássaro e voou: passou a amar o infinito.

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