sábado, 11 de junho de 2011

A meu amigo João

As certezas não cabem neste mundo, pois o transitarmos no ser depende basicamente de fé. A crença de que amanhã o sol nascerá de novo, de que a moeda cairá no chão se eu jogá-la.

Acontece que há vinte anos nascia um alguém. E as coisas - idiotas que são - seguiram em sua tacanha indiferença a tudo. O sol não fez questão de brilhar mais, os carros não pararam, os postes de luz iluminaram a noite da mesma forma de sempre. Mas para o nascente indivíduo o mundo era uma grande novidade e tudo era singelamente profundo.

Foi de forma displicente que o tempo uniu a mim e à criança que em vinte anos idos chorava na maca de um hospital. Erámos grande novidade um ao outro e a novidade é intrinsecamente incerta. Algumas delas acabam se mostrando um evento pontual e podem nunca mais ocorrer, outras podem se repetir indefinidamente até conquistarem a fé e virarem certezas.

E seguiu a vida, esta dança de imprevistos. Eu, moeda que sou, várias vezes caí ao chão, por esta crença a que chamamos gravidade. Eis que tão certo quanto cair era ver João me levantar. Na primeira vez foi uma grande novidade, mas se repetiu, repetiu, repetiu e virou certeza. Pode ser, meu amigo, que o monte Everest - para citar um exemplo pequeno - não dê a mínima para sua existência. Peço logo que perdoe a ignorância desse monte de pedras: tenho mais fé em sua grandeza que na dele.

2 comentários:

  1. Dennis, meu amigo, não sei nem o que dizer. Me deu um presente que nem todo dinheiro do mundo poderia comprar, que é essa nossa amizade. O abraço, te darei ainda hoje o/

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  2. Ah! esses meus filhos, sempre me surpreendendo. Continuem sempre assim.

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