quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Brasília

Caminho no deserto da noite entre as quadras vazias. O silêncio arde, brinco de ouvir meus passos ecoando nas janelas dos prédios. Bato o pé mais forte, depois estalo os dedos, o eco de mim nas janelas. Eu sou o caminhar deserto pelo silêncio em rua. Como um verme nas veias do organismo concreto. Um pouco solidão, talvez eu seja um pouco saudade...talvez. É madrugada e a lua cheia está encoberta por nuvens: ingrata. Dediquei-te horas tantas de contemplação para no momento exato do esvair-me no escuro só restar abandono. A rontina me torna quase imóvel. À excessão de minhas operações metabólicas sou exatamente o mesmo que fui ontem, ou bem perto disso. Pouco tenho a acrescentar.

Agora eu sou uma música cantarolada bem baixo pra não acordar a cidade - a mesma música de ontem. As janelas agora ecoam minha voz, sou janela, um eco do mesmo não-ser de ontem. É chato isso de estar. Um homem passa com as mãos no bolso - tenho medo dele. Ele tem medo de mim também. Um momento de estardalhaço, as janelas confundem-se quanto aos passos de quem devem ecoar. Pegamos caminhos diversos eu e o homem: dois vermes no organismo concreto.

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