sexta-feira, 4 de março de 2011

Impressões

Engraçado, há alguns minutos você saía de casa enquanto fazia recomendações envolvendo ligações e documentos importantes e à medida em que fechava a porta dizia "eu te amo". Na Líbia, opositores ao governo disparam tiros de canhão, lutando pela democracia. Você fechando a porta, revoltosos na Líbia, a televisão de LCD reproduzindo o jornal e um homem - um saco de batatas nas costas, as mãos rachadas pelo esforço, pele negra e barba branca - revirando o lixo do bloco onde moramos.

Entro no carro e dou partida. Ele se move, o que deveria ser algo mais impressionante do que parece à primeira vista. Vejo no tapete do carro um grampo de cabelo que você deixou na noite passada e penso que o amor inteiro é esse grampo. Penso que sou esse amor que transcende o eu e se encontra ali, no tapete do carro, mas não uso exatamente essas palavras na minha reflexão. Uma moça atravessa a faixa de pedestres e eu paro. Um pardal voa de uma árvore a um poste. Eu não costumo voar. A moça chega ao outro lado, volto a andar,125 pessoas entram em um avião e embarcam para Belém. Segunda-feira, um restaurante no centro e ele pede a mão dela em casamento: ela esta grávida e será uma menina, embora ambos não saibam.

O grampo desliza no tapete do carro. Eu, na condição de grampo que transcende o amar, dirijo o carro à procura de ser. Não há o que criar, viver sufoca.

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