sábado, 24 de setembro de 2011

Respirar, caminhar, movimentar os membros, dor no estômago, dor de cabeça, sorrir, chorar, enrubescer, segurar, apalpar, sentir o cheiro, amar, odiar, sentir fome, ter orgulho, achar graça, entristecer, arrepender-se, abraçar, beijar, trabalhar, pagar as contas, comprar comida, abrir garrafa de leite, abrir a torneira, trancar a porta, desesperar-se, assistir televisão, pensar, mentira, verdade, mais-valia, alteridade, feio, belo, o inapreensível existir, o medo, a consciência do vazio, a beleza de tudo, o orgulho, a categórica face da

morte.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

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E pensar que por um momento esqueci quão maravilhoso é o existir. Desculpe vida, já passou esse meu acesso de loucura.

sábado, 10 de setembro de 2011

Carta a Brasília

Eu admito que te traí. Quando vi pela janela do avião as suas matas secas e estradas poeirentas quis voltar imediatamente para os braços do mar. Eu não faço o tipo volúvel que larga um amor apenas pela beleza estonteante de outro. Acontece que muitas das coisas que antes me faziam te amar hoje me dão medo e vontade de ir embora. Aqui eu só vejo um monte de obrigações, decepções, uma alegria ou outra, mas é tudo bem mais ou menos. Em compensação acabei de voltar de um sonho e pulsa em mim a visão ainda fresca de uma vida outra. Mas está tudo bem, Brasília. Não serei covarde como em outras vezes: ficarei aqui contigo.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

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A vida é feito passarinho
É como a flor e o espinho:
Tem o cantar e o sofrer

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Recado

Muito bonito você fica aqui na cidade maravilhosa, viu? Gostei do jeito que os cariocas te arrumaram: você parece pronto pra uma eterna festa. E também todo mundo gosta de ti por essas bandas, qualquer coisinha falam de você, mal vem o sol e já correm pro seu abraço. Tem muita alegria por aqui mesmo, é por isso que você faz questão de brilhar tanto. Fico feliz de estar em sua presença, acho que te amo muito.

Você é todo engraçado: parece um monte de rios.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O amor e a liberdade

Digamos que José era um apaixonado. Desde sempre o rapaz foi um amante das coisas todas que porventura existissem. As pedras no chão, o olhar de uma moça, o tilintar das chaves de um senhor na rua: tudo era objeto não só de atenção, mas de um sentimento que o transcendia . A verdade é que muito lhe doía a indiferença tamanha das pessoas com o existir em absoluto. Certa feita, uma senhora que caminhava pela calçada seguiu seu obtuso caminho sem dar a mínima atenção a um caco de vidro que a tudo contemplava escorado na raiz de uma árvore. Foi a gota d'água: José passou a recolher tudo aquilo que antes padecia no esquecimento. Ele guardava pedras pequenas - dessas que se confundem com grãos de areia - e pedras grandes, pneus de carro usados, canetas sem tinta, sorrisos não correspondidos. A tudo isso, reservava um carinho sem precendentes.

Acontece que a cada dia José via menos alegria a sua volta. As coisas que ele tanto amava não demonstravam gratidão, mas desespero: o preocupar-se de José lhes tirava a liberdade. Talvez o que mais quisesse o caco de vidro era ver o tempo passar escorado sob a sombra da árvore. O rapaz não pensou duas vezes e desfez-se de tudo que antes havia aprisionado. Ficou tão leve que virou pássaro e voou: passou a amar o infinito.