sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A uma amiga

Quando você passa, as coisas vão virando suas: olhares, sorrisos, canções. Como é fluido esse mundo que encrudesce com seu olhar na mesma certeza em que brilha a um sorriso seu. Mas há quem não goste - e já digo logo não ser o meu caso - de ver-te assim tão presente em querer. Conto, então, uma história engraçada pra ilustrar esse fato.Certa vez o destino, na condição de ser pleno (ou plena arrogância, não sei), quis engendrar-te a mais concreta das dores, aquela que sentimos quando alguém que é pedaço nosso embarca em viagem sem-fim. Eis que você olhou-o de frente e ordenou-lhe que fosse: e até hoje ele segue, coitado, categórico em ser do jeito seu.

Daí em diante, são só capivaras no jardim...

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

...

Diga a Maria que os ventos da primavera vêm trazer sua chuva. Ou melhor, esqueça, ela já deve ter percebido. Diga apenas que quando o céu derramar suas lágrimas ambos sentiremos frio e que faz pouco sentido escondermo-nos em guarda-chuvas separados. Diga que meu violão anda meloso a cantar certo amor por ela.
Diga que os seus olhos dariam um livro: resignificaram a distância e ainda hoje existem em mim, apesar de ausentes. Penso que devíamos avisá-la que os amores acabam e seu maior assassino é o silêncio da indiferença...mas não gosto de mentiras: ambos sabemos a força do eterno. Peça apenas que ela apareça um pouco, que traga o cachorro - ou o gato, não sei - para brincar conosco. E mostre, discretamente, por ser ela arisca, que quero apenas aquecer corações no aconchego da paz.

Entregue essa carta sem pressa, pois é a urgência o vício da vida: e não se esqueça, leve um guarda-chuva, Solidão...

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Mentir

Minto. E continuarei mentindo enquanto acreditarem que existe verdade.

domingo, 12 de setembro de 2010

Sobre o que nos escapa

Certa vez, visitei Itaoca - uma cidade litorânea habitada quase exclusivamente por pescadores. Em um dos dias que lá passei, resolvi assistir ao nascer do Sol. Que coisa boa é poder vê-lo surgir do fundo do mar tingindo de rosa o firmamento. Para tal empreitada, arrastei minha irmã. Quando começou o espetáculo, algo que não esperávamos ocorreu: milhares de siris voltavam do mar para abrigar-se em seus buracos na areia. Aos olhos de minha irmã, assustada com os pequeninos seres, aquilo acabou com sua contemplação da aurora. Ela mal tinha coragem de pisar na areia, mas um sentimento diferente imprimiu suas marcas em mim.

Imagino que em cada uma das manhãs que experimentei ao longo da minha vida, não importa o que eu fizesse, sentisse, ansiasse, temesse: os siris sempre voltavam à areia. E quantas foram essas auroras, quantas ainda deverão vir. Assim como serão infindos meus anseios, medos, contingências...

Pode ser que me perguntem "E daí? O que nos diz essa história?". Pois é, também não sei: quem dera caber em mim tamanha compreensão do estarmos.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Pausa

Aos poucos leitores desse blog, aviso que estarei em viagem na próxima semana e por isso entraremos em breve período de pausa. Aos que ficam, desejo paz;