quarta-feira, 30 de março de 2011

Desfazer

Se não me engano era mês de agosto quando resolvi me desfazer de tudo aquilo que não tivesse um bom motivo para ali estar. Se algo, por mínimo que fosse, me parecesse sobressalente no sistema do existir tinha como destino certo a amplitude do esquecimento. Comecei - diria que obviamente - por atirar às traças os livros, depois computador, escrivaninha, relógio. Percebi que não precisava de roupas para seguir no passar da vida. Eu não precisava de música, ou de qualquer outra forma de arte, linguagem, nada que surgisse da interação entre pessoas: eu não queria a inutilidade das gentes. Os alvos primeiros foram aqueles conhecidos distantes que nos distribuem tontos sorrisos esporádicos. Gradativamente fui chegando aos amigos mais próximos e à família, seres que simplesmente distribuem tontos sorrisos e enfadantes rancores cotidianamente. O desfazer me proporcionava um prazer enorme, eu tinha certeza de estar caminhando rumo ao encontro de minha essência.

Depois de tanto trabalho, quando livrei-me daquela insignificante tampa mordida de caneta escondida debaixo da cama já inexistente, entendi: desnecessário era eu.

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