quinta-feira, 20 de maio de 2010

Educação x Mercado

Quando comecei a dar aulas era apenas um garoto de 17 anos que pouco sabia sobre 'métodos pedagógicos' além de minhas concepções revolucionárias de quem não conhecia outra lógica de existência além da sentida por um aluno. Por esse motivo tinha com meus discentes mais novos (7 a 12 anos), tanto de violão quanto de matemática, a seguinte postura: raramente me exaltava quando algum deles se 'comportava mal' e levava à sala de aula várias opções de dinamização. No violão fazíamos uma grande roda em que todos os vinte alunos deviam escutar cada um dos colegas tocando e sempre levava alguns estudantes ao quadro para resolverem problemas matemáticos, explicando aos colegas e contando piadas de vez em quando; em um determinado dia da semana fazíamos ao fim das aulas uma brincadeira escolhida pelos alunos - das quais eu participava - entre outras coisas do tipo.

Esse tipo de atitude criava um ambiente bem diferente do que é percebido em aulas tradicionais. As crianças me respeitavam, mas nem de longe eu conseguia deles o silêncio e o comportamento - para alguns, sinônimo de atenção - obtidos por professores mais experientes que eu. Desse modo passei a achar que meu comportamento estava errado e deveria ser mudado: minha aula era uma zona. Por conflitos de horários acabei deixando as aulas de matemática e me concentrei apenas no violão. Depois de quase dois anos de experiência consegui inferir - uso esse verbo marcante de propósito - aos meus alunos o comportamento considerado didático pela pedagogia vigente mas, sem que eu percebesse à primeira vista, algo foi se perdendo. Meus alunos continuam mostrando por mim um grande afeto, já que sempre os trato com muito carinho, mas não se sentem mais tão à vontade dentro de sala. Hoje quando dou as aulas por encerradas a grande maioria vai embora e apenas uns poucos continuam tocando e tirando as dúvidas sem fim...há um ano eu tinha que mandá-los embora, pois ficavam todos.

Não percebi essa diferença sozinho. Um dos meus melhores alunos - de nove anos apenas - e que me tem em grande estima me disse hoje no meio de uma aula: "Tio, você não faz mais rodas pra tocarmos nossas músicas preferidas, nem faz brincadeiras no fim da aula, agora a gente só tem que ensaiar, ensaiar, ensaiar, estamos cansando." Na hora fiquei ligeiramente chateado e não acatei de imediato a observação dele, mas passei essa noite inteira pensando nisso. Não há nada melhor que aprendermos aquilo que nos desperta curioside e encantamento.

A educação não deve ser necessariamente tratada como uma linha de produção mercadológica. Deve ser humana, ouvir o interlocutor. As crianças têm seus anseios, opiniões e estes não devem ser ignorados para que elas não se tornem adultos que ignoram opiniões dos outros. O conhecimento não deve ser visto como algo congelado que deve ser enfiado nas mentes deles...deve ser instigado, deve atrair. Sei que existem diversas correntes pedagógicas que defendem essa forma de abordagem e as acho realmente atraentes mas, o que expresso aqui é a minha opinião, ou melhor, o conhecimento que aprendi com meus alunos: amanhã haverá brincadeira.

Um comentário:

  1. Lembro-me de ter levado sua irmã em uma aula no SENAC comigo e ela definiu a minha aula como "a maior bagunça". Deixava os alunos livres para fazerem da aula um divertimento. Aos poucos fui percebendo que isso só era possível em algumas situações. Acho que você vai descobrir assim como eu, que o grande segredo é intercalar horas de total descontração e horas de total dedicação e neste equilíbrio vai perceber a satisfação e o prazer que cada um de seus pequeninos alunos, terá ao assistir suas aulas. Parabéns por mais essa descoberta.

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