domingo, 1 de abril de 2012

Eu e as coisas

Sempre tive encanto pelas coisas. Talvez este encanto seja o tema mais recorrente neste blog. Por conta de uma reforma em minha casa achei uma redação que escrevi aos 9 anos e foi 'publicada' em um pequeno livro do meu antigo colégio. Talvez esta paixão pelo existir das coisas tenha sido um dos temas mais recorrentes na minha vida...

Eu e o meu quarto

Em um dia de sol, cheguei da escola muito cansado e pulei na cama do meu quarto. De repente ouvi uma voz vinda debaixo de mim dizendo:
- Dá pra deitar com mais cuidado?
Assustado, eu perguntei:
- Quem é?
- Sou eu, a cama
Caí no chão: a cama tinha me derrubado de cima dela mesma. Espantado fui ligar e televisão e antes de apertar o botão ouvi alguém dizer:
- Tira o dedo daí! Pode deixar que eu me ligo sozinha.
Fui sentar no tapete e ouvi:
- Nem pense nisso!

Gosto de conversar com os objetos do meu quarto porque aprendo muitas coisas novas.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

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Milito bravamente pela democracia. Não por defender a liberdade - quimera muito pouco convincente -, nem por ver nela um arranjo político justo. Longe de ser alguma dessas coisas a democracia é ao menos muito engraçada e nada me atrai mais que boas risadas...

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

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Escrevo porque lembrei de Maria. Achei ainda em mim um carinho sem precedentes. Em Maria aprendi um amor bobo: que ria à toa, que não exigia nada em troca, que se sabia inocente, mas nem se importava. Aprendi com ela certa paciência com as pessoas e coisas que nos são estranhas, certo carinho com o mundo. Não é que eu veja em Maria um estandarte de perfeição - sei, por exemplo, que ela não é muito boa comunicadora - mas, como disse, passei a ver nisso uma manifestação pura do existirmos. Dizer que lembrei de Maria é dizer que aos poucos me volta aos olhos o ver poesia nas coisas como são. Aos poucos me abandona um peso que nunca quis carregar e mesmo assim ajudei a alimentar. Vejo que deixei de comemorar as manhãs e em troca os dias passaram rápidos e frios. Não é que a vida seja pesada ou leve, é apenas indiferente. Volta, Maria, volta e traz na sua cesta o que perdi de poesia.

Hoje sou eu quem lhe pede, assim, humildemente: venha para mais perto de mim.

domingo, 6 de novembro de 2011

Cataguases

Como diria Ascânio Lopes:

"Em ti se dorme tranquilo sem guardas-noturnos.
Mas com o cri-cri dos grilos,
o ram-ram dos sapos.
O sono é tranquilo como o de uma criança de colo.
Vale a pena viver em ti.
Nem inquetude.
Nem peso inútil de recordações,
mas a confiança que nasce das coisas que não mudam bruscas,
nem ficam eternas."

sábado, 24 de setembro de 2011

Respirar, caminhar, movimentar os membros, dor no estômago, dor de cabeça, sorrir, chorar, enrubescer, segurar, apalpar, sentir o cheiro, amar, odiar, sentir fome, ter orgulho, achar graça, entristecer, arrepender-se, abraçar, beijar, trabalhar, pagar as contas, comprar comida, abrir garrafa de leite, abrir a torneira, trancar a porta, desesperar-se, assistir televisão, pensar, mentira, verdade, mais-valia, alteridade, feio, belo, o inapreensível existir, o medo, a consciência do vazio, a beleza de tudo, o orgulho, a categórica face da

morte.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

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E pensar que por um momento esqueci quão maravilhoso é o existir. Desculpe vida, já passou esse meu acesso de loucura.

sábado, 10 de setembro de 2011

Carta a Brasília

Eu admito que te traí. Quando vi pela janela do avião as suas matas secas e estradas poeirentas quis voltar imediatamente para os braços do mar. Eu não faço o tipo volúvel que larga um amor apenas pela beleza estonteante de outro. Acontece que muitas das coisas que antes me faziam te amar hoje me dão medo e vontade de ir embora. Aqui eu só vejo um monte de obrigações, decepções, uma alegria ou outra, mas é tudo bem mais ou menos. Em compensação acabei de voltar de um sonho e pulsa em mim a visão ainda fresca de uma vida outra. Mas está tudo bem, Brasília. Não serei covarde como em outras vezes: ficarei aqui contigo.